segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

"As crianças não são hiperactivas, são mal educadas"

Estou tentada a concordar com o Henrique Raposo, no artigo que copio aqui em baixo. É uma coisa que me chateia são aqueles pais que usam estas "novas doenças" para desculpar a educação que os filhos não têm. E é óbvio que existem de facto crianças com esses problemas a sério e coitados desses pais, mas que caímos no exagero, tenho muito poucas dúvidas de que caímos. E espero não ser castigada no futuro por estar a dizer isto. Que Deus me livre de ter que passar por algum problema sério com o R. e também eu estou sujeita a ter um miúdo mal comportado em casa... mas que estou tentada a concordar com ele, lá isso estou:


"É uma comédia que se acumula no dia-a-dia. Um sujeito vai ao café ler o jornal, e o café está inundado de crianças que não respeitam nada, nem os pardalitos e os pombos, e os pais "ai, desculpe, ele é hiperactivo", que é como quem diz "repare, ele não é mal-educado, ou seja, eu não falhei e não estou a falhar como pai neste preciso momento porque devia levantar o rabo da cadeira para o meter na ordem, mas a questão é que isto é uma questão médica, técnica, sabe?, uma questão que está acima da minha vontade e da vontade do meu menino, olhe, repare como ele aperta o pescoço àquele pombinho, é mais forte do que ele, está a ver?". E o pior é que a comédia já chegou aos jornais. Parece que entre 2007 e 2011 disparou o consumo de medicamentos para a hiperactividade. Parece que os médicos estão preocupados e os pais apreensivos com o efeito dos remédios na personalidade dos filhos. Quem diria?
Como é óbvio, existem crianças realmente hiperactivas (que o Altíssimo dê amor e paciência aos pais), mas não me venham com histórias: este aumento massivo de crianças hiperactivas não resulta de uma epidemia repentina da doença mas da ausência de regras, da incapacidade que milhares e milhares de pais revelam na hora de impor uma educação moral aos filhos. Aliás, isto é o reflexo da sociedade que criámos. Se um pai der uma palmada na mão de um filho num sítio público (digamos, durante uma birra num café ou supermercado), as pessoas à volta olham para o dito pai como se ele fosse um leproso. Neste ambiente, é mais fácil dar umas gotinhas de medicamento do que dar uma palmada, do que fazer cara feia, do que ralhar a sério, do que pôr de castigo. Não se faz nada disto, não se diz não a uma criança, porque, ora essa, é feio, é do antigamente, é inconstitucional.
Vivendo neste aquário de rosas e pozinhos da Sininho, as crianças acabam por se transformar em estafermos insuportáveis, em Peter Pan amorais sem respeito por ninguém. Levantam a mão aos avós, mas os pais ficam sentados. E, depois, os pais que recusam educá-los querem que umas gotinhas resolvam a ausência de uma educação moral. Sim, moral. Eu sei que palavra moral deixa logo os pedagogos pós-moderninhos de mãos no ar, ai, ai, que não podemos confrontar as crianças com o mal, mas fiquem lá com as gotinhas que eu fico com o mal."

1 comentário:

  1. Sobre este assunto, aconselho vivamente veres (e verem) esta palestra de Sir Ken Robinson (um senhor que diz "coisas giras" sobre educação), em que ele conta a história da bailarina Gillian Lynne, dada como hiperactiva na escola e, não fosse a visão sensata de um especialista, poderia ser uma frustrada na vida. Para ver e ouvir aqui: http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=iG9CE55wbtY#t=903s

    Bjs
    MG

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