segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Ainda não chegamos lá, mas não falta muito!

Este texto da Inês Teotónio Pereira verbaliza um dos meus grandes terrores para o futuro: a altura em que vou perceber que o meu filho não nasceu ensinado e que há dias em que me vai apetecer abrir-lhe a cabeça para manipular fisicamente o seu cérebro.


«É mais fácil reduzir o défice para 2 por cento, é menos doloroso assistir aos comentários semanais de José Sócrates do que ensinar os ditongos a um filho no final do dia

Não me canso de escrever sobre isto, mas tem mesmo de ser: escrever sobre a dicotomia escola/pais é fazer serviço público. É preciso. É preciso que o país saiba que a conciliação entre vida familiar e vida escolar é tão importante ou mais que a conciliação entre vida familiar e vida profissional. Conciliar a nossa vida com a vida escolar dos nossos filhos é o grande desafio para o novo milénio. Qual défice, qual dívida, quais PPP. Acreditem: é mais fácil um elefante passar no buraco de uma agulha, é mais fácil reduzir o défice para 2 por cento, é menos doloroso assistir aos comentários semanais de José Sócrates que ensinar os ditongos a um filho no final do dia e acabarmos todos amigos como dantes. Impossível: a nossa relação nunca mais é a mesma depois de uma sessão de trabalhos de casa às 7 da tarde. Há qualquer coisa no nosso cérebro que se altera por eles não conseguirem fazer uma simples conta de somar ou ler a palavra "pato". E o pior é que não podemos mudar de canal como fazemos com Sócrates.
Desde que tenho filhos na escola que a minha vida mudou. Não foi o número de filhos que alterou a minha vida, o número de filhos só tornou a minha vida, vá, mais preenchida; foi a escola que promoveu uma revolução em minha casa. Uma revolução de lápis em vez de cravos. Nunca mais fui a mesma mãe e o regime da minha casa alterou-se para sempre.
Desde que tive de fazer os primeiros trabalhos de casa com o meu filho mais velho que a nossa relação se degradou, nunca mais gozámos a mesma harmonia. No outro dia ele lembrava: "Lembra-se quando me ia batendo só porque eu não acertava a ordem dos meses do ano?" Sim, lembro. Até me lembro que foi por milagre que não o atirei pela janela.
Devia ser proibido os pais fazerem trabalhos de casa com os filhos. Devia haver uma portaria, um decreto-lei ou mesmo uma lei nesse sentido. Devia ser ilegal. Tão ilegal quanto não usar cadeirinha no carro ou levar crianças penduradas da janela. É que não é para menos: fazer trabalhos de casa com filhos põe em causa a segurança das crianças, a sanidade mental dos pais e a ordem pública ou pelo menos a ordem da vizinhança.
Desconfio que os professores não fazem ideia do que está em causa quando pedem aos pais que ajudem os filhos com os TPC. Um pedido que parece inocente e até pedagógico é tudo menos isso. Fazer esse pedido aos pais é mesma coisa que dizer: "Caro encarregado/a de educação, hoje ao final do dia, depois do trabalho, das filas de trânsito, do stresse, etc., e antes dos banhos e do jantar, sente-se com os seus filhos, grite com eles, descomponha-os, perca a cabeça e, no limite, ponha em causa a integridade física dos petizes. Muito obrigada." É isto. Nem mais nem menos. Os trabalhos de casa propriamente ditos, caros professores, são um pormenor em comparação com tudo o que está em causa. Os pais são só pais. Não sabem nada de pedagogia, de psicologia ou de ciências. E se tivessem mesmo de saber, só o psicólogos e os professores é que podiam ser pais. Todos os outros ficavam para tios.
Os pais não estão emocionalmente preparados para lidar com o cérebro dos filhos. Sabemos lidar com o coração deles, cuidamos do estômago dos meninos, dos pulmões, etc. Agora com o cérebro deles não. O cérebro deles, raios, nós não controlamos. Nós conseguimos tudo: ensiná-los a comer, a andar, a falar, a jogar à bola, a brincar com bonecas e até a fazerem as camas. Agora explicar que 30 menos 10 dá 20 é paternalmente impossível.»

2 comentários:

  1. Não podia achar este texto mais ridículo. Acho mesmo idiota. Espero nunca me arrepender de ter dito isto mas é o que eu acho.
    Vejo a minha irmã ajudar o meu sobrinho a fazer os trabalhos de casa, eu própria já ajudei, e não custa nada. É giro e até divertido. Não vejo ciência nenhuma em explicar que 30 menos 10 dá 20. Acho até que devemos estar a par do que eles aprendem na escola e por isso não vejo mal nenhum em tirar 20 minutos do nosso dia para os ajudar.

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  2. Eu também acho super importante e acho q é fundamental, mas tenho um medo terrível de ter dias de desespero como ela conta. No fundo, tenho medo que ele n goste de estudar e seja daqueles miúdos difíceis a quem dei muitas vezes explicações. Já é difícil com os filhos dos outros, com o meu vou-me passar se ele for preguiçoso

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